
Conformada como uma organização que apoia as artes a partir da realização de diferentes eventos, a Bienal de Veneza existe desde 1895 como um importante fomento para o meio. Atualmente ela se configura pela Bienal de Arte (realizada em anos ímpares), de Arquitetura (em anos pares), de Filmes (anualmente) e de Teatro e Dança (ocasionalmente).
Assim, por estarmos em um ano par, no dia 26 de maio teve início a Bienal de Arquitetura de Veneza. O evento acontecerá até o dia 25 de novembro nos espaços do I Giardini della Biennale, criado por Napoleão no início do século XIX como um parque público para a população, e no Arsenale, construído por volta de 1104, como estaleiro e arsenal naval.

A cada ano, diferentes curadores são escolhidos para liderar e coordenar a exposição. Nomes como Rem Koolhaas e Alejandro Aravena já presidiram o evento. Nesta edição a as arquitetas Yvonne Farrell e Shelley McNamara, ambas do escritório irlandês Grafton Architects, foram apontadas para tal. O tema estabelecido por elas foi Freespace (espaço livre), que se constitui como uma reflexão da essência espacial (material) da arquitetura e seu potencial em mediar, através do uso do espaço vazio, a relação entre pessoas, arquiteturas e seus usos, homenageando espaços livres que podem variar de acordo com o desejo dos usuários. O objetivo é revelar a presença da ausência e a possibilidade de sobre ela se criar qualquer forma, descrevendo a generosidade de espírito nas funções materiais da arquitetura.

O pavilhão do Brasil criou uma exposição cujo tema foi Walls of air (muros de ar), com o intuito de ilustrar os “muros” existentes em decorrência dos processos de urbanização enfrentados pelos País. Sua exibição tinha como objetivo explorar essas barreiras como elementos impeditivos da arquitetura brasileira, cultura e identidade, no sentido de que impõem distinções sociais e econômicas discriminatórias. Sua transposição seria necessária para a existência de uma real multiplicidade cultural e social. A partir disso, cartografias foram produzidas apresentando diferentes informações e abordagens, não possuindo bordas fixas (sem muros), mas expondo relações entre diferentes aspectos da cultura brasileira. Por exemplo, a relação dos valores de imóveis em São Paulo e o grafite. A partir disso foi realizado uma chamada aberta de projetos por todo o Brasil, buscando exemplificar com arquiteturas como seria esse País sem barreiras, por exemplo, os SESCs de São Paulo.
Outros pavilhões interessantes, como o da Argentina, apresentou a paisagem de seus pampas dentro de um cubo enigmático cheio de espelhos, dando a sensação de uma paisagem infinita e levantando a questão da produção horizontal do espaço. A Indonésia, por sua vez, trouxe elementos básicos da produção de conceitos da arquitetura, como o papel, a uma nova escala, criando com fitas penduradas ao longo do Arsenale espaços onde o observador era capaz de caminhar, observando suas curvaturas e perfis. Intitulada como Sunyata: The Poetics of emptiness (Sunyata: a poesia do vazio), seu objetivo principal foi levar a arquitetura a seus conceitos elementares, organizando o espaço e as pessoas a seu redor.
Vencedora do Leão de Ouro (prêmio máximo da Biennale) o Pavilhão da Suíça, colocou em foco o espaço onde habitamos na exposição 240: House Tour (240: tour de uma casa). Uma vez que a arquitetura residencial é discutida principalmente por plantas e organizações de como vivemos,a cultura material (materialidade) que influencia essa identidade não é explorada. Assim, a instalação proposta leva o visitante pela jornada da paisagem do espaço construído, mostrando a arquitetura de forma subvertida, em grandes e pequenas escalas, nos forçando a refletir nas superfícies e aparência dos espaços onde vivemos, deixando em foco não o espaço em si, mas os detalhes que recobrem superficies, como piso e etc.
Publicado no dia 5 de Junho de 2018 no blog do Pavimento Tipo