
Caminhando no centro hoje passei a reparar na quantidade de mães e crianças que estavam passando por ali. Uma em especial chamou minha atenção, estava eu esperando na calçada de semáforo um tanto quanto lento, quando uma senhora apressada passou correndo em uma daquelas típicas travessias suicidas que todo pedestre já fez em um dia de pressa. Essa mulher, todavia, não estava sozinha, puxava pelo braço uma criança que a seguia em passos trôpegos um pouco atrás.
Notando a confusão no olhar da criança fiquei imaginando se ela estaria se recordando da aula que havia tido, em que a professora ensinou que devemos atravessar a rua somente quando o semáforo está fechado para carros, ou que devemos sempre cruzar sobre a faixa de pedestres (no caso a mãe dela estava desrespeitando os dois pontos). É mais provável que ela estivesse apenas pensando que era muito cedo e que ela preferia estar vendo desenho nas cobertas do que correndo pelas ruas, todavia seu semblante desorientado me levou a pensar como as crianças enxergam as cidades.
Dentro dos estudos de urbanismo se fala muito da escala do pedestre e de como este deve ser considerado para a construção de espaços públicos de qualidade. O que se percebe, entretanto é que a cidade contemporânea brasileira raramente respeita isso, jogando sempre os transeuntes para calçadas cada vez mais estreitas e criando cada vez mais pistas para alimentar o trânsito incessante. Não obstante, se as cidades já se apresentam dessa forma caótica e estranguladora para os adultos, imagine para uma criança.
Com os meus um metro e setenta e cinco consigo me mover no centro com uma certa agilidade, sigo com meus fones de ouvido obstinada ao meu destino. Esbarro em algumas pessoas, levo buzinadas, ganho quinhentos panfletos de propaganda, mas continuo em frente. Agora, imaginar isso sob uma perspectiva infantil me parece um tanto quanto intimidador. Recorrendo rapidamente por minhas memórias, me recordo de uma cena de quando tinha uns seis ou sete anos, e soltei da mão de minha babá e acabei quase sendo atropelada por uma bicicleta. Tenho ainda a imagem perfeita do ciclista indo em minha direção enquanto a babá me agarrava novamente e puxava para trás.
A cidade na escala de uma criança é completamente diferente. O nível de seu olhar só vê pernas, cada degrau é uma barreira a ser transposta, cada quadra uma longa maratona. Como introduzi-las a este espaço tornando-o atrativo e seguro para elas também? Antes da percepção da cidade o mundo todo é sua casa, ele cabe em um engatinhar, tudo está a um choro de distância. A transição de uma escala para a outra é inexistente, simplesmente um dia a criança se vê carregada nos braços de seus pais sendo introduzida naquela balburdia. Tudo é enorme, tudo é longe, o mundo passa a ser uma confusão de cheiros, sons e de pessoas (algumas passando fazendo caretas e dando oi e outras sem ao menos nota-lo).
Quando morei em Amsterdam a primeira coisa que reparei ao chegar na cidade foram seus playgrounds, eles eram sem dúvida os mais legais que já vi na vida, nada de balanço e gangorra sob o sol, mas um universo lúdico inteiro permeado por luz e sombra. Adquiri rapidamente um respeito pelo povo holandês por considerar a cidade para todos, sejam eles crianças, adultos, idosos ou pessoas com mobilidade reduzida. Em todos os ônibus, trams ou metrôs que circulei sempre havia um espaço para pais com carrinhos de bebê, assim como todo um trabalho de suspensão dos veículos para não precisar daquela coisa chata de erguer os carrinhos pelas escadas.
As crianças são consideradas dentro da cidade com o mesmo peso que os adultos, proporcionar espaços de qualidade para elas é tão fundamental quanto para seus pais. Talvez por isso, mesmo com as ruas abarrotadas de turistas, as moças de biquíni nas vitrines e o cheiro de maconha no ar, Amsterdam parece muito mais convidativa aos olhos de uma criança do que as cidades brasileiras. Ali, mesmo com a trepidação do carrinho sobre as ruas de pedra sabe-se que nenhuma distância a pé será muito longa, existe transporte público de qualidade para isso. Ficar parado preso no trânsito em uma daquelas cadeirinhas cada vez mais esquisitas chega a ser utópico. Bicicletas acopladas com uma espécie de baú na sua parte frontal são o que levam os pequenos de um lado a outro. Ao crescerem mais um pouco elas mesmas já ganham sua própria bicicleta e passam a seguir seus pais pelas ciclovias. Parques e playgrounds permeiam toda a cidade proporcionando um universo inteiro de lazer e brincadeiras.
Requerer isso das nossas cidades talvez seja um pouco pretencioso dentro do cenário que as cidades brasileiras se encontram inseridas. Todavia, é importante notar que ao se projetar o espaço urbano considerando as crianças se projeta também para todo o resto, afinal ao se rebaixar a guia da calçada para um carrinho de bebê também se ajuda um cadeirante por exemplo. A única diferença seria portanto a de tentar fazer esse pensamento de uma maneira mais descontruída e menos objetiva, com menos cinza e mais cor, de maneira mais lúdica, transformando aos poucos a vida urbana em algo mais fácil e leve.
Notando a confusão no olhar da criança fiquei imaginando se ela estaria se recordando da aula que havia tido, em que a professora ensinou que devemos atravessar a rua somente quando o semáforo está fechado para carros, ou que devemos sempre cruzar sobre a faixa de pedestres (no caso a mãe dela estava desrespeitando os dois pontos). É mais provável que ela estivesse apenas pensando que era muito cedo e que ela preferia estar vendo desenho nas cobertas do que correndo pelas ruas, todavia seu semblante desorientado me levou a pensar como as crianças enxergam as cidades.
Dentro dos estudos de urbanismo se fala muito da escala do pedestre e de como este deve ser considerado para a construção de espaços públicos de qualidade. O que se percebe, entretanto é que a cidade contemporânea brasileira raramente respeita isso, jogando sempre os transeuntes para calçadas cada vez mais estreitas e criando cada vez mais pistas para alimentar o trânsito incessante. Não obstante, se as cidades já se apresentam dessa forma caótica e estranguladora para os adultos, imagine para uma criança.
Com os meus um metro e setenta e cinco consigo me mover no centro com uma certa agilidade, sigo com meus fones de ouvido obstinada ao meu destino. Esbarro em algumas pessoas, levo buzinadas, ganho quinhentos panfletos de propaganda, mas continuo em frente. Agora, imaginar isso sob uma perspectiva infantil me parece um tanto quanto intimidador. Recorrendo rapidamente por minhas memórias, me recordo de uma cena de quando tinha uns seis ou sete anos, e soltei da mão de minha babá e acabei quase sendo atropelada por uma bicicleta. Tenho ainda a imagem perfeita do ciclista indo em minha direção enquanto a babá me agarrava novamente e puxava para trás.
A cidade na escala de uma criança é completamente diferente. O nível de seu olhar só vê pernas, cada degrau é uma barreira a ser transposta, cada quadra uma longa maratona. Como introduzi-las a este espaço tornando-o atrativo e seguro para elas também? Antes da percepção da cidade o mundo todo é sua casa, ele cabe em um engatinhar, tudo está a um choro de distância. A transição de uma escala para a outra é inexistente, simplesmente um dia a criança se vê carregada nos braços de seus pais sendo introduzida naquela balburdia. Tudo é enorme, tudo é longe, o mundo passa a ser uma confusão de cheiros, sons e de pessoas (algumas passando fazendo caretas e dando oi e outras sem ao menos nota-lo).
Quando morei em Amsterdam a primeira coisa que reparei ao chegar na cidade foram seus playgrounds, eles eram sem dúvida os mais legais que já vi na vida, nada de balanço e gangorra sob o sol, mas um universo lúdico inteiro permeado por luz e sombra. Adquiri rapidamente um respeito pelo povo holandês por considerar a cidade para todos, sejam eles crianças, adultos, idosos ou pessoas com mobilidade reduzida. Em todos os ônibus, trams ou metrôs que circulei sempre havia um espaço para pais com carrinhos de bebê, assim como todo um trabalho de suspensão dos veículos para não precisar daquela coisa chata de erguer os carrinhos pelas escadas.
As crianças são consideradas dentro da cidade com o mesmo peso que os adultos, proporcionar espaços de qualidade para elas é tão fundamental quanto para seus pais. Talvez por isso, mesmo com as ruas abarrotadas de turistas, as moças de biquíni nas vitrines e o cheiro de maconha no ar, Amsterdam parece muito mais convidativa aos olhos de uma criança do que as cidades brasileiras. Ali, mesmo com a trepidação do carrinho sobre as ruas de pedra sabe-se que nenhuma distância a pé será muito longa, existe transporte público de qualidade para isso. Ficar parado preso no trânsito em uma daquelas cadeirinhas cada vez mais esquisitas chega a ser utópico. Bicicletas acopladas com uma espécie de baú na sua parte frontal são o que levam os pequenos de um lado a outro. Ao crescerem mais um pouco elas mesmas já ganham sua própria bicicleta e passam a seguir seus pais pelas ciclovias. Parques e playgrounds permeiam toda a cidade proporcionando um universo inteiro de lazer e brincadeiras.
Requerer isso das nossas cidades talvez seja um pouco pretencioso dentro do cenário que as cidades brasileiras se encontram inseridas. Todavia, é importante notar que ao se projetar o espaço urbano considerando as crianças se projeta também para todo o resto, afinal ao se rebaixar a guia da calçada para um carrinho de bebê também se ajuda um cadeirante por exemplo. A única diferença seria portanto a de tentar fazer esse pensamento de uma maneira mais descontruída e menos objetiva, com menos cinza e mais cor, de maneira mais lúdica, transformando aos poucos a vida urbana em algo mais fácil e leve.